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Toxicidade 

Os efeitos tóxicos da cafeína são, na maioria das vezes, extensões dos seus efeitos farmacológicos. A sintomatologia pode resultar de uma interacção farmacocinética entre a cafeína e a terapia medicamentosa. [1]

   Sistema Cardiovascular [1]

A ingestão simultânea de uma dose oral única de 200 mg de mexiletina, pode aumentar a concentração de cafeína cerca de 23% em indivíduos saudáveis. Esta origina uma preocupação em pacientes com arritmia cardíaca. Alguns efeitos adversos da mexiletina podem ser atribuídos à diminuição da eliminação de cafeína (até 50%).

   Sistema Nervoso Central [1]

A ingestão excessiva de cafeina predomina em doentes com distúrbios de foro mental em comparação com outros doentes. Neste sentido, poderá ser necessário aumentar a dose do fármaco de forma a neutralizar os efeitos resultantes do consumo inadequado de cafeina, originando um maior risco de interações farmacocinéticas. Neste contexto, temos a salientar:

Antidepressivos

Atualmente é crescente a prescrição de medicamentos pertencentes à classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Deste modo, cada vez mais existem estudos acerca das possíveis interações, nomeadamente a capacidade de inibir as isoenzimas CYP.


A paroxetina e fluoxetina são inibidoras da CYP2D6, por outro lado a fluvoxamina tem pouco efeito sobre esta enzima, sendo um potente inibidor da atividade da CYP1A2 induzida pelos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PAH).

Como resultado verificou-se que a clearance de cafeína diminuiu 80% e o tempo de semivida aumentou em 500% durante a administração simultânea com fluvoxamina, o que demonstra o risco existente da interacção medicamentosa.

Antipsicóticos

A clozapina é utilizada no tratamento da esquizofrenia, tendo sido observado um episódio agudo dos sintomas num paciente aquando da sua introdução na terapia. Constatou-se que durante anos este consumia cerca de 5 a 10 cafés por dia, sem nunca ter apresentado sintomatologia adversa utilizando os antipsicóticos clássicos. Assim sendo atribui-se estes episódios a uma interacção entre a clozapina e a cafeína. O paciente foi encorajado a evitar a ingestão de cafeína e não se verificou mais nenhum episódio psicótico agudo.

Os autores deste relatório apresentam como possível explicação uma interacção farmacodinâmica ao nível do receptor, mas o efeito pode ser devido a uma interacção farmacocinética competitiva entre a clozapina e a cafeína ao nível da enzima CYP1A2.

De forma a obter mais uma evidência clínica para comprovar a probabilidade de uma interacção farmacocinética entre clozapina e cafeína da dieta, foi realizado um estudo controlado em pacientes com esquizofrenia. As concentrações de clozapina no plasma diminuíram em média 47% depois da retirada de cafeína da dieta.

Na verdade, a clozapina tem uma afinidade maior do que cafeína para a enzima CYP1A2, mas devido a concentrações mais elevadas de cafeína, a cinética de Michaelis-Menten prevê que a cafeína vá ocupar a maior parte dos sítios de ligação do CYP1A2, o que é suficiente para inibir o metabolismo de clozapina.

   Sistema Respiratório [1]

A teofilina (1,3- dimetilxantina) está relacionada quimicamente com a cafeína, no entanto o seu metabolismo é muito menos complexo. A CYP1A2 catalisa 80 a 90% das N-desmetilações e cerca de 50% da 8-hidroxilação a ácido 1,3-dimetilúrico.

O caso de um paciente medicado com teofilina para aliviar a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) mostrou que a cafeína consumida a partir da dieta pode acumular concentrações tóxicas durante a terapia com teofilina. Assim a administração conjunta de cafeína e teofilina conduziu a uma diminuição da eliminação de ambos os compostos em indivíduos saudáveis​​. As concentrações médias de cafeína no soro aumentaram 158%. Assim sendo, o tempo de semivida de teofilina foi prolongado 6,3-8,3 horas e a clearence foi reduzida em 23%.

A fim de evitar reações adversas durante a terapia com teofilina, recomenda-se que o consumo de cafeína seja controlado.

Casos práticos de intoxicação por cafeína [2]

Casos conhecidos em que a causa de morte se deve à intoxicação por ingestão excessiva de cafeína, tendo como consequência a morte. Este estudo refere-se a um período de 10 anos (1999 a 2009). 

Três casos (casos 1, 2 e 7) apresentam história cardíaca anormal e/ou resultados que poderiam ser um factor que predispõe para a toxicidade cardiovascular. No entanto ligações definitivas não foram comprovadas.

 

 

A intoxicação por cafeína continua a ser uma causa muito rara de morte. Apesar de a cafeína ser um ingrediente comum nos alimentos está também presente em formulações de vários medicamentos. Todas as mortes foram relacionadas com ingestão de medicamentos que contêm cafeína e nenhuma delas foi relacionada com alimentos que contenham cafeína.

Conclusão/Discussão

A cafeína está presente sob diversas formas na alimentação, todavia a grande maioria dos casos relatados de toxicidade por cafeína é através da ingestão oral de comprimidos. Assim, vários mecanismos têm sido propostos com o intuito de relacionar a toxicidade da cafeína principalmente com o sistema cardiovascular. O aumento da pressão arterial tem sido registado pela acção da cafeína no músculo, provocando ligeiros aumentos na circulação de catecolaminas.

 

Em concentrações mais elevadas, a cafeína também aumenta AMP cíclico intracelular e o GMP cíclico por inibição não específica da fosfodiesterase, o que aumenta a contractilidade cardíaca secundária pela libertação de cálcio do retículo sarcoplasmático.

 

É geralmente considerado que uma doença das artérias coronárias predispõe o doente para morte súbita após a ingestão de doses mais elevadas de cafeína.

 

Estudos clínicos sugerem que há aumento da ectopia ventricular após uma ingestão significativa de cafeína e o risco de arritmia é relacionado com a dose.

Fontes Bibliográficas:

[1] Carrilo. J, Benitez. J. (2000) Clinically Significant Pharmacokinetic Interactions Between Dietary Caffeine and Medications. Clin Pharmacokinet; 39 (2):127-153

[2] Banerjee.P et al. (2014) Fatal Caffein Intoxication: A Series of Eight Cases from to 2009. J. Forensic Sci, 14 (3).

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