Cafeína
Efeitos benéficos
Como tudo na vida, tudo que é em excesso é exagero e apresenta efeitos indesejáveis. Assim, quando a cafeína é consumida de uma forma controlada e moderada, esta apresenta inúmeros benefícios, salvo exceções em que a cafeína é totalmente desaconselhada, deste modo é necessário avaliar se o risco compensará o benefício ou vice-versa.
Doenças Neurodegenerativas
Doença de Alzheimer [1]-[4]
Alguns dos estudos realizados referem que o consumo regular de cafeína reduz o risco de desenvolver Alzheimer. Esta afirmação é comprovada através do estudo que demonstra que o risco de demência em idosos diminuiu cerca de 65% em indivíduos que consumiam 3 a 5 cafés. Todavia, existem estudos que não relacionam o consumo da cafeina com a prevenção de doenças neuro degenerativas.
Doença de Parkinson [5]-[7]
A cafeína pode ajudar a prevenir, ou mesmo retardar a evolução da doença de Parkinson, contudo é de salientar que não apresente uma relação tão linear para as mulheres como para os homens. Neste sentido, serão necessários mais estudos para avaliar a interação entre a cafeína e a terapia hormonal. De qualquer forma, verificou-se que para doses de cafeína testada como co-adjuvante no tratamento da doença de Parkinson, traz benefícios adicionais.
Estudos experimentais recentes identificaram e realçaram o mecanismo de ação para o papel preventivo da cafeína na doença de Parkinson.
Diabetes Mellitus tipo 2 [8]-[16]
O consumo de cafeína estabelece uma relação negativa no desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo 2, ou seja, a cafeína reduz o risco futuro de desenvolver Diabetes Mellitus tipo 2. Tal facto já foi comprovado, através de inúmeras publicações científicas. Pode referir-se um estudo de 2009 realizado em oito países diferentes, com uma amostra de 457922 pessoas, tendo sido diagnosticado apenas 21987 novos casos de diabetes (cerca de 4,8%). É de salientar que estes resultados demonstram uma associação negativa estatisticamente significativa entre o consumo de cafeína e o risco subsequente de desenvolver Diabetes Mellitus tipo 2.
Deste modo, significa que beber 3 a 4 cafés por dia está associado a um valor aproximado de 25% inferior de desenvolver Diabetes tipo 2 em comparação ao consumo de nenhum ou menos de 2 cafés por dia, isto é, cada café por dia está associado a um risco de 5-10% mais baixo de desenvolver Diabetes tipo 2.
Recentemente, outros estudos epidemiológicos publicados realçaram a relação inversa entre o consumo de cafeína e taxa de incidência de Diabetes Mellitus tipo 2.
Doenças Cardiovasculares [17]-[23]
Atualmente existe uma relação entre a cafeína e os marcadores de saúde cardiovascular. Neste sentido, são, cada vez mais, realizados estudos de forma a explorar as modificações que surgem ao nível da frequência cardíaca, pressão arterial e arritmias. Nawrot et al (2003) concluiu que o consumo moderado de cafeína não prejudica a saúde cardiovascular.
A grande meta-análise de 21 estudos, publicados em 2009 demonstrou que a relação entre o consumo da cafeína e o aparecimento de doença cardíaca é variável de pessoa para pessoa. De uma forma geral, não existe uma associação estatisticamente significativa entre o consumo de cafeína e o risco, a longo prazo, de contrair doença cardíaca coronária. Todavia, o consumo moderado e regular de cafeína nas mulheres pode estar associado a um menor risco de doença cardíaca.
Três estudos recentes, também comprovaram que não existe relação entre o consumo de cafeína e o risco de doença. Na verdade, um estudo holandês demonstrou um menor risco em grupos de pessoas, que habitualmente consomem 2 a 3 cafés por dia.
Existem também estudos que relacionam o consumo de cafeína com o acidente vascular cerebral (AVC). Neste contexto, procedeu-se nos EUA a uma análise em enfermeiras que comprovou uma relação inversa entre o consumo de cafeína e incidência de AVC. É de salientar que esta relação foi mais pertinente para os subgrupos de ex-fumadores e não fumadores.
É importante referir que a cafeína pode aumentar a frequência cardíaca, assim como a pressão arterial imediatamente após o seu consumo. No entanto, para consumidores regulares de cafeína, este efeito começa a atenuar-se devido à tolerância, que por consequência do consumo regular acaba por se desenvolver, ou seja não aumenta o risco de hipertensão.
Cancro [24]-[27]
De uma forma geral o consumo de cafeína assume um papel de proteção na prevenção de diversos tipos de cancro. Neste âmbito, muitos estudos epidemiológicos têm sido realizados, em diversos países de forma a verificar que tipo de ligação existe entre o consumo de cafeína e os diferentes tipos de cancro, tendo-se obtido uma associação negativa no risco em desenvolver cancro.
Recentemente uma investigação norte-americana da Universidade Rutgers (New Jersey, EUA), revelou que a cafeína, dada a sua constituição, manifesta propriedades que se demonstraram benéficas na prevenção do cancro de pele. Tal facto foi verificado, visto que a cafeína tem a capacidade de inibir a proteína ATR, que controla o ciclo celular. Deste modo, uma equipa de investigadores através de ratinhos geneticamente modificados (com genes ATR deficientes) e de ratinhos com genes ATR normais demonstraram um menor risco de cancro de pele nos ratinhos transgénicos, dado que estes levaram mais tempo a desenvolver a doença, tendo assim menos tumores do que aqueles com genes ATR normais. Logo, conclui-se que a cafeína é pertinente neste tipo de cancro.
Estimulante físico e psíquico [28]-[31]
Aumento do estado de alerta
Estudos realizados demonstram que o consumo de cafeína aumenta o estado de alerta, assim como reduz a sensação de fadiga. Estes efeitos são comprovados através paradigmas, que envolvem situações em que o estado de alerta encontra-se mais reduzido.
Recentemente, uma equipa da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, descobriu que a cafeína estimula a memória, pelo menos até 24 horas após o seu consumo.“Sempre soubemos que a cafeína tem efeitos que melhoraram o desempenho cognitivo, mas nunca foi examinado em detalhe nos seres humanos os seus efeitos específicos sobre o reforço da memória e como gera resistência ao esquecimento”, disse Michael Yassa, especialista que liderou o estudo.
Outros efeitos [32],[33]
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Alívio das dores de cabeça;
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Inseminação artificial;
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Dermatite Atópica;
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Alívio de Cólicas menstruais;
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Doenças Hepáticas;
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Estimulante lipídico,
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Apneia do recém nascido;
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Fontes Bibliográficas:
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